sexta-feira, dezembro 05, 2003

A angústia da escolha:

Nenhuma opção (quando há realmente opção) se pode fazer sem angústia. A opção é o sinal distintivo da existência. Existir é opção.

Kierkegaard

quarta-feira, dezembro 03, 2003

Existência de Deus:

A única prova da existência de Deus é o anseio humano colectivo de que exista.

John Updike

sexta-feira, outubro 31, 2003

Origem do mundo:

O problema da origem do mundo preocupou sempre todo o homem capaz de reflectir, visto ser impossível contemplar o espectáculo do Universo estrelado, sem perguntar como é que ele se formou.

Henrique Poincaré, Lições sobre as hipóteses Cosmogónicas

quinta-feira, outubro 30, 2003

Casal amoroso:

Vão dormir juntos. Sabem-no muito bem. Cada um deles sabe que o outro também sabe. Mas, como são novos, castos e decentes, como cada um quer conservar a sua estima por si próprio e a estima do outro, como o amor é uma grande coisa poética que é preciso não amedrontar, vão juntos, várias vezes por semana, aos bailes e aos restaurantes oferecer o espectáculo das suas dançazinhas rituais e mecânicas...
No fim de contas, é preciso matar o tempo. São os dois jovens e de boa compleição: ainda têm diante deles uns trinta anos. Por isso não se apressam, saboreiam o seu vagar, e não deixam de ter razão. Quando tiverem dormido juntos, precisarão de encontrar outra coisa para encobrir o enorme absurdo da sua existência.

Jean-Paul Sartre, A Náusea, Colecção Mil Folhas, Público

sábado, outubro 25, 2003

Deus e proximidade:

Entre dois homens que não têm a experiência de Deus, é talvez aquele que o nega quem d'Ele está mais perto.

in Simone Weil, La Pesanteur et la Grâce, Paris, Plon, 1947

sexta-feira, outubro 24, 2003

Estranheza:

Estranhamos ao ver uma coisa que não compreendemos; a estranheza é o mal-estar da razão privada do seu objecto.

in C. Lahr, Manual de Filosofia

quinta-feira, outubro 23, 2003

A Verdade e o Engano:

Todos os homens se regozijam com a verdade; conheci muitos que quisessem enganar; nenhum que quisesse ser enganado.

in S. Agostinho

segunda-feira, outubro 20, 2003

O Homem e o Universo:

O homem não é mais do que um junco, o mais frágil da natureza, mas é um junco pensante (...). Ainda que o universo o esmagasse, o homem seria ainda mais nobre do que aquilo que o mata, porque sabe que morre e conhece a vantagem que o universo tem sobre ele, ao passo que, de tudo isso, o universo nada sabe.

in Blaise Pascal

sábado, outubro 18, 2003

Suicídio:

(...) não há senão um único problema filosófico verdadeiramente sério: o problema do suicídio. Julgar que a vida vale ou não vale a pena ser vivida, é responder à questão fundamental da filosofia.

in Albert Camus, Le Mythe de Sisyphe, Paris, Galimard, 1942

sexta-feira, outubro 17, 2003

A Religião:

A religião é o suspiro da criatura acabrunhada pela desgraça, é o coração de um mundo sem coração, é o espírito de uma época sem espírito. É o ópio do povo.

in Karl Marx, Contribuition à la critique de la philosophie du droit de Hegel, Paris, 1929

quinta-feira, outubro 16, 2003

Aborrecimento:

O aborrecimento intenso, pairando como nevoeiro silencioso sobre os abismos da realidade humana, congraça homens e coisas, incluindo-nos a nós mesmos, numa surpreendente indiferenciação.

Heidegger

domingo, setembro 07, 2003

Bach e Brahms:

Bach é como uma árvore edénica: basta tocar-lhe para que dela se desprendam sempre os mais belos frutos, perfeitamente amadurecidos.

Brahms - um grande moinho de música. Metem-se para o moinho uns tantos moios de trigo, e o moinho tem que cumprir a sua obrigação: moer todo aquele trigo, que pode dar na verdade farinha de primeira qualidade, mas a qual pode também muitas vezes não correspoder a reais necessidades, e para ali fica, não inútil, mas atravancadora....

in Obras Literárias de Fernando Lopes-Graça, Reflexões sobre a Música, Edições Cosmos

sábado, setembro 06, 2003

O Indivíduo e o meio:

O indivíduo define-se em relação ao meio, é função do meio, depende do meio - como o meio se define em relação ao indivíduo, é função do indivíduo, depende do indivíduo.

in António José Saraiva, Para a História da Cultura em Portugal, Ed. Gradiva, Vol. I

quarta-feira, setembro 03, 2003

Pena de morte:

A pena de morte é a forma mais premeditada de assassinato.

Albert Camus

Fim da inocência:

Não é verdade que, na primeira fase da nossa existência, somos crianças inocentes que acreditamos em tudo o que ocorre sob o tecto dos nossos pais? Depois chega o dia dos Laodicenses e então percebemos que somos desgraçados e miseráveis e infelizes e cegos e desamparados e, com o rosto de um fantasma macabro e angustiado, atravessamos uma vida de pesadelo, estremecendo de horror?

Jack Kerouac, Pela Estrada Fora, Colecção Mil Folhas

terça-feira, setembro 02, 2003

Morte das religiões:

(...) este é o modo como as religiões costumam morrer: quando os pressupostos míticos de uma religião, sob os olhos rigorosos, razoáveis, de um dogmatismo bem-pensante, são sistematizados como uma soma acabada de acontecimentos históricos e se começa angustiosamente a defender a credibilidade dos mitos, mas a rebelar-se contra toda a sobrevivência e propagação dos mesmos, quando, portanto, o sentimento pelo mito morre, e em seu lugar se introduz a pretensão da religião a ter bases históricas.

in Nietzsche, O Nascimento da Tragédia no Espírito da Música, Nova Cultural

segunda-feira, setembro 01, 2003

Quarteto de cordas:

(...) o quarteto é uma das formas musicais mais puras que existem. A restrição dos seus meios materiais (que não significa, contudo, pobreza) implica uma economia de processos, uma contenção expressiva, um ascetismo de ideias, que excluem, nos melhores paradigmas do género, toda sedução exterior, todo brio, todo pitoresco aliciador, toda facilidade condescendente, tudo, enfim, que não seja pura essencialidade musical, puro pensamento sonoro.

in Obras Literárias de Fernando Lopes-Graça, Reflexões sobre a Música, Edições Cosmos

domingo, agosto 31, 2003

Saber:

Todos os homens tendem, por natureza, para o saber.

in Aristóteles, Metafísica


sábado, agosto 30, 2003

Tragédia Grega:

É uma tradição incontestável que a tragédia grega na sua configuração mais antiga tinha por objecto somente a paixão de Dioniso e que por muito tempo o único herói cénico que houve foi justamente Dioniso. Mas com a mesma segurança poderia ser afirmado que nunca, até Eurípides, Dioniso deixou de ser o herói trágico, e que todas as figuras célebres do palco grego, Prometeu, Édipo e assim por diante, são apenas máscaras desse herói primordial, Dioniso.

in Nietzsche, O Nascimento da Tragédia no Espírito da Música, Nova Cultural

Velhice:

A maior parte de nós (os velhos) lamenta-se com saudades dos prazeres da juventude, ou recordando os gozos do amor, da bebida, da comida e outros da mesma espécie, e agastam-se, como quem ficou privado de grandes bens, e vivesse bem então, ao passo que agora não é viver. Alguns lamentam-se ainda pelos insultos que um ancião sofre dos seus parentes, e em cima disto entoam uma litania de quantos males a velhice lhes é causa. A mim afigura-se-me, ó Sócrates, que eles não acusam a verdadeira culpada. Porque, se fosse ela a culpada, também havia de experimentar os mesmos sofrimentos devido à velhice, bem como todos quantos chegaram a esta fase da existência. Ora eu já encontrei outros anciãos que não sentem dessa maneira, entre outros o poeta Sófocles, com quem deparei quando alguém lhe perguntava: "Como passa, ó Sófocles, em questões de amor? Ainda és capaz de te unires a uma mulher?" "Não digas nada, meu amigo!" - replicou -. "Sinto-me felicíssimo por lhe ter escapado, como quem fugiu a um amo delirante e selvagem." Pareceu-me que ele disse bem nessa altura, e hoje não me parece menos. Pois grande paz e libertação de todos esses sentimentos é a que sobrevém na velhice. Quando as paixões cessam de nos repuxar e nos largam, acontece exactamente o que Sófocles disse: somos libertos de uma hoste de déspotas furiosos. Mas, quer quanto a estes sentimentos, quer quanto aos relativos aos parentes, há uma só e única causa: não a velhice, ó Sócrates, mas o carácter das pessoas.

in Platão, A República, Fundação Calouste Gulbenkian

Elite:

Élite é propriamente uma palavra que se define em relação a "massa". "Élite" e "massa" são dois termos mutuamente dependentes. Se não houvesse massa, ou, por outra, se tudo fosse élite, não havia élite. Élite significa que, dentro de certo grupo, certa classe, certa massa, enfim, se seleccionam os representantes mais perfeitos, de melhor qualidade, mais "representativos" numa palavra, dessa massa. Isto é muito diferente da ideia de classe à parte e, em certo sentido, até é o contrário, porque "classe à parte" não supõe selecção, supõe, por outro lado, impermeabilidade em relação aos problemas de outras classes mais amplas. Élite, representando determinada massa, põe e define os problemas dessa massa: mas isso supõe que recebe dela o sangue que a vivifica e que entre uma e outra há uma capilaridade, uma rede de vasos portadores de seiva.

in António José Saraiva, Para a História da Cultura em Portugal, Ed. Gradiva, Vol. I

sexta-feira, agosto 29, 2003

Stravinsky e Beethoven:

Stravinsky é um génio prisioneiro de si mesmo, ou, antes, da imagem do Proteu que ele próprio se forjou, ou que as suas múltiplas experiências o levaram voluntariamente a forjar-se. Por aqui se distancia ele do outro grande Proteu da música, Beethoven, que conservou sempre a sua liberdade e uma grande gratuitidade através das suas também múltiplas experiências, todavia ingenuamente determinadas por uma profunda necessidade interior de renovação.

in Obras Literárias de Fernando Lopes-Graça, Reflexões sobre a Música, Edições Cosmos

quarta-feira, agosto 27, 2003

O Conhecimento e o agir:

O conhecimento mata o agir, o agir requer que se esteja envolto no véu da ilusão.

in Shakespeare, Hamlet

As Mulheres e o amor:

Muito menos mulheres se deitariam com os homens, se pudessem obter na posição vertical as frases de admiração de que precisam e a cama exige.

in Malraux, André, A Condição Humana , Ed. Livros do Brasil

Ciúme:

Não seremos nunca ciumentos se não do que supomos que outrem supõe?

in Malraux, André, A Condição Humana , Ed. Livros do Brasil

A Universidade:

A Universidade está destinada a ser ultrapassada pelos acontecimentos. Já hoje ela é uma pequena ilha resistindo com tenacidade à nova ordem de coisas e à nova cultura correspondente para que ela não está preparada. Quer dizer: a Universidade não exerce a sua função de ir adiante dos acontecimentos, prevendo-os e explicando-os: vai a reboque deles, resistindo-lhes. Se a cultura é a possibilidade de controlar e reconhecer as forças naturais de que somos agentes ou pacientes, ou as duas coisas ao mesmo tempo, se a cultura nos torna aptos a prever, a Universidade é em Portugal a negação da cultura.

in António José Saraiva, Para a História da Cultura em Portugal, Ed. Gradiva, Vol. I

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